Tempo de Leitura: 4 minutos

Respondendo a uma das perguntas que me fizeram para o blog no âmbito da iniciativa ASKME (deixe-me perguntas para inspirar artigos no blog), vou hoje dar algumas dicas para ajudar a alterar os “rótulos” que nos são colocados ao longo do percurso profissional numa empresa de forma a inverter a imagem negativa que os outros têm de nós.

São necessários 20 anos para construir uma reputação e apenas cinco minutos para destruí-la.

Warren Buffett

Quais são os rótulos? Alucinações ou reais?

Em primeiro lugar, é importante perceber que “rótulos” são esses e distinguir os reais das alucinações.

Uma coisa é aquilo que achamos que os outros pensam de nós (que pode tanto ser verdade como também pode ser uma alucinação) e outra coisa é a impressão que os outros têm e que até já nos deram feedback.

Vou dar-lhe um exemplo de alucinação: uma pessoa acha que o chefe não o acha competente ou de confiança já que o chefe não lhe dá projetos de maior responsabilidade ou não partilha informação. O facto de o chefe não lhe dar projetos de maior responsabilidade ou não partilhar informação não significa necessariamente que não o ache competente ou de confiança. Tantas outras coisas podem estar a acontecer! Tantos outros significados podem ser associados a este comportamento.

Por outro lado, todos tendemos a colocar rótulos nas outras pessoas. Os rótulos nascem da nossa perceção do comportamento das outras pessoas e esquecemo-nos que as pessoas não são esse comportamento. O comportamento que adotam num determinado contexto é isso mesmo: um comportamento. Tipicamente esquecemo-nos que os comportamentos podem ser alterados e é aí mesmo que vamos trabalhar se queremos transformar os rótulos que nos colocam.

De onde vêm os rótulos?

Para mudar o rótulo é importante perceber de onde vêm esses rótulos.

  1. Em primeiro lugar, perceba quais são as pessoas especificamente que lhe colocaram esse rótulo ou quem são as pessoas quer influenciar a que mudem de opinião.
  2. Em segundo lugar, é importante clarificar a origem do rótulo. Um rótulo por si só não lhe diz nada. O que é importante perceber é quais foram os comportamentos específicos que adotou que levaram à criação desse rótulo. Vamos explorar este ponto de seguida.

Este tipo de rótulos resultam em geral da interpretação que fazemos de comportamentos e nesse processo tendemos a apagar certos comportamentos e a generalizar outros. Por exemplo, com base nalguns comportamentos/experiências tendemos a assumir que essa pessoa tem esse comportamento sempre, mesmo que já tenhamos observado situações em que isso não acontece.

Até damos um passo maior e assumimos que o comportamento não é isso mesmo, um comportamento, mas uma característica da pessoa.
Por exemplo, se alguém chega duas vezes atrasado a uma reunião, colocamos-lhe o rótulo de atrasado.

Por outro lado os rótulos que colocamos estão intimamente ligados às nossas regras e expetativas e aos significados que associamos aos comportamentos, a como achamos que as pessoas se deviam comportar.

Voltando ao exemplo de chegar a horas ou atrasado: para uma pessoa para quem chegar atrasado é inaceitável e significa que quem chega atrasado não tem respeito pelos outros, basta alguém falhar uma vez para ficar com o rótulo de atrasado, desorganizado, etc. Para outra pessoa para quem não seja assim tão importante chegar a horas, alguém chegar atrasado é simplesmente … alguém chegar atrasado.

Deixe-me dar-lhe outros exemplos:

  • O chefe do João acha que ele não é proactivo já que está sempre a envolve-lo para resolver problemas. Como o João gosta de o manter informado, o chefe tem sempre a sensação de que o João está a pedir-lhe aprovação e não quer tomar decisões. Repare que a informação de que “não é proactivo” por si só não ajuda o João a transformar o comportamento.
  • A Maria tem o rótulo de antipática. As colegas da Maria gostam de ficar a conversar na copa na hora do almoço mas a Maria prefere almoçar rápido e vai logo a seguir trabalhar de modo a sair mais cedo e realizar outras atividades que são muito importantes para ela. Mesmo que a Maria se mostre prestativa durante o dia, como não é de “conversas”, as colegas colocam-lhe o rótulo de antipática.
  • Os colegas do Francisco acham que ele é um picuinhas já que está sempre a levantar questões que os atrasam

Já está ver onde quero chegar…quando queremos transformar o rótulo, devemos procurar perceber:

  1. quais são os comportamentos específicos que levaram a esse rótulo;
  2. quais são as regras/níveis de exigência/procedimento de evidência que levaram a esse rótulo.

Não se defenda com palavras, defenda-se com ações

Repare que o que é rotulado é o comportamento ou perceção do comportamento. Aqui é importante o conceito de perceção: a ideia que o outro tem do comportamento pode não ser a mesma que temos ou pode até não ser a realidade.

Caso acredite que o rótulo é justo e que resulta de um comportamento específico que adotou, pode valer a pena assumir o erro.

No entanto, não se mostre defensivo ou tente desculpar-se/acusar os outros. Isso pode reforçar o rótulo. Foque-se em transformar o comportamento como vamos ver de seguida.

Como transformar os rótulos

Se quer mesmo transformar os rótulos que lhe colocam o primeiro passo é agarrar agora numa caneta (ou num processador de texto) e escrever as respostas às várias perguntas que vou colocar de seguida. Escreva mesmo, a sério! A escrita ajuda-nos a organizar as ideias.

O segundo passo é preparar-se para alterar alguns comportamentos de um modo consistente ao longo do tempo. A perceção que os outros têm não vai mudar de um dia para o outro já que tendemos a desvalorizar coisas que não estão alinhadas com a nossa opinião/impressões. Por outro lado se for persistente, vai aumentar a probabilidade de ver resultados.

Enquanto falarmos em coisas abstratas (como atrasado, desorganizado, pouco proactivo, antipático, picuinhas, etc.) é muito difícil transformar resultados. A transformação ocorre quando começamos a transformar comportamentos e resultados específicos.

Já agarrou na caneta? Vamos a isso?

1. Quais os rótulos que lhe colocam agora e que gostaria de transformar? (Vamos assumir que já avaliou que não se trata de uma alucinação…)

2. Qual é a intenção positiva por trás do comportamento que levou ao rótulo? Por exemplo no caso do Francisco (picuinhas) que levantava muitas questões: ele tem a intenção de antecipar problemas e fazer as coisas bem feitas. Ignorar a intenção positiva e deixar de realizar o comportamento, pode ter resultados negativos e também pode levá-lo a não se sentir satisfeito. De que outra maneira pode satisfazer a intenção positiva?

3. Porque é que transformar esses rótulos é importante para si?

4. Quem são as pessoas que quer influenciar/que mudem de opinião?

5. Quais são os comportamentos que adota e que levaram a que lhe colocassem esses rótulos? A cereja no topo do bolo é perguntar quais são os comportamentos/exemplos de situações específicas que essas pessoas observaram (em vez de estar a fazer um filme). Quando as respostas forem abstatas, peça um exemplo de uma situação específica e não tente defender-se. Ouça, processe e aceite que essa é a perceção dessa pessoa e o seu foco é em transformar essa perceção no FUTURO.

6. Que outros rótulos gostaria que lhe colocassem?

7. Quais os comportamentos que alucina que os outros achariam consistentes com esses rótulos (coloque-se no lugar do outro ou pergunte)? Que comportamentos específicos deverá adotar consistentemente alinhados com esses novos rótulos?

8. É possível que já esteja a adotar esses comportamentos específicos mas que não sejam observados pelas pessoas que quer influenciar, ou seja, não precisa de adotar um comportamento novo mas sim alterar a perceção dos outros relativamente ao seu comportamento? Caso isso aconteça, como pode fazer esses comportamentos observáveis?

9. Quem o pode ajudar nesse processo (partilhando consigo o que observa já que muitas vezes estamos tão envolvidos que não notamos o tipo de comportamento que estamos a adotar, chamando-o à atenção, etc.)?

10. O que pode fazer especificamente nas próximas semanas? Por exemplo, identifique situações onde poderá colocar em prática as suas decisões. Vá avaliando semanalmente o que correu bem, o que poderia ter corrido melhor e o que vai fazer diferente.

Resumindo:

  1. O rótulo resulta da perceção dos outros sobre o nosso comportamento. Para transformar o rótulo, foque-se em transformar o comportamento e/ou a perceção do comportamento.
  2. Identifique quem são as pessoas que quer influenciar.
  3. É importante focar-se em comportamentos e expetativas específicas.
  4. Identifique situações específicas onde vai adotar o novo comportamento.
  5. Mantenha a consistência e foco neste processo. Não vai acontecer do dia para noite. Planeie o que vai fazer semanalmente e avalie a semana que passou respondendo às perguntas “o que correu bem?”, “o que podia ter corrido melhor?” e “o que vou fazer diferente?”

FERRAMENTAS

Um conto sobre como lidar com a mudança

Um conto sobre como lidar com a mudança

Começo por partilhar um conto. Há muitos anos, em uma pequena aldeia na China, vivia um camponês. Ele era considerado um homem sábio, pois sempre mantinha uma perspectiva equilibrada sobre a vida. Sua...

read more

AO COMANDO DA OBJETIVO LUA

Ana Relvas, Ph.D & Consultora de Desempenho

Ana Relvas é a propulsora da Objetivo Lua, projeto que cresceu da sua vontade em ajudar outros a concretizarem o seu potencial e foi construído sobre uma carreira de mais de 10 anos como Gestora e Engenheira Aeroespacial.

É esta experiência que, aliada à formação como Coach e Master Practitioner em Programação Neurolinguística, permite entender os desafios profissionais atuais e desenhar programa para cada pessoa, equipa ou empresa.

 

 

 

Soluções   Cursos   Recursos
Quem Somos   Blog   Contactos

 

 

 

Copyright © 2018 Objetivo Lua. Todos os direitos reservados. Powered by Business Config.