Sempre tive algum cuidado sobre como posso contribuir para um melhor estado do planeta embora a conveniência seja um obstáculo neste caminho.
Sempre tive cuidado no que talvez possamos chamar os “básicos”: separar o lixo obviamente, poupar papel (gastam-se 2 a 15 litros de água para produzir uma folha A4) reutilizando folhas usadas ou 2 páginas por folha e frente e verso, evitar sacos de plástico (tenho sempre um saco pano comigo), sempre que possível fazer reuniões videoconferência para evitar deslocação ou usar o comboio.
Mas nos últimos tempos tenho andado mais atenta. Um dos temas que tenho explorado são as iniciativas “zero-waste” (lixo zero) porque fiquei muito impressionada com o documentário Oceanos de plástico (está no netflix) e com a observação de cada vez mais lixo nas praias.
O plástico por si só não é um inimigo mas o modo como o estamos a usar está a causar problemas.
Fiquei impressionada ao aprender que 82% plástico sobrevive entre 50 e 650 anos. O plástico vai parar ao mar matando milhões de animais (como mostrado no documentário que aconselho mesmo mesmo a verem).
Há ilhas de plástico nos oceanos. A “ilha de plástico do pacifico” tem 17 vezes o tamanho de Portugal. 17 vezes! Até 2050 haverá mais plástico no mar do que peixes.
Depois há os microplásticos que invadiram os oceanos, os solos , o ar e os alimentos. Na Plataforma Mudança Verde referem que ingerimos a quantidade de plástico por semana equivalente a um cartão de crédito.
O conceito lixo zero inspirou-me a reduzir o desperdício e lixo, não só de plástico mas dos recursos do planeta. Tenho lido vários livros sobre o assunto como o clássico “Desperdício Zero” da Bea Johnson e “Desafios Zero: guia prático de redução de desperdício dentro e fora de casa” da Eunice Maia (com várias boas referencias para Portugal).
Fiquei assustada com o que li mas inspirada com a seguinte frase deste segundo livro:
“Não precisamos de umas quantas pessoas a fazerem lixo-zero perfeitamente. Precisamos de milhões a fazerem-no imperfeitamente.” (Anee-Marie Bonneau).
Chamemos-lhe lixo zero (cujo conceito assusta muita gente) ou comportamentos mais amigos do ambiente mas há pequenas grandes coisas que podemos fazer na nossa vida. E hoje quero partilhar algumas que podemos fazer no trabalho, tanto a nível individual como a nível organizacional.
O lixo desnecessário gerado nas empresas
Há pequenas escolhas nas empresas que podem ser transformadas.
Por exemplo, abolir os copos de plástico nos dispensadores de água ou os copos e garrafas de plástico nas salas de reuniões. Podemos ter copos de vidro e jarros com água nas salas de reunião (ou mesmo evitar a sua presença para reduzir o trabalho associado a gerir isso) e promover que todos os colaboradores tenham uma garrafa ou copo. Até se pode oferecer uma com o logo da empresa.
Deixar de comprar canetas, brochuras e outros brindes desnecessários para oferecer. Todos nós temos muito lixo deste em casa. Ninguém precisa de mais uma caneta ou brinde e as brochuras, na maior parte das situações, podem ser digitais.
Vou deixar de entregar canetas da Objetivo Lua nos meus cursos e passar a ter algumas canetas normais de reserva caso alguém não traga uma caneta consigo.
Podemos comprar equipamento que dure. Infelizmente os equipamentos eletrónicos estão desenhados para se tornarem obsoletos (chama-se obsolescência programada). Escolher computadores e telemóveis que durem optando por exemplo por telemóveis com a maior RAM e espaço em disco possível levará a que continuem a conseguir responder às atualizações e cada vez maior uso durante mais tempo.
Uma das áreas que vejo que pode ser facilmente transformada é substituir o papel em processos burocráticos por soluções digitais. Dou um exemplo muito simples: continuo a receber faturas e declarações por correio de fornecedores e clientes apesar de já ter pedido para ser digital.
Há dias recebi uma carta de uma Câmara a informar que tinham feito um pagamento. Não só é um desperdício de papel como é pouco produtivo. Teria sido muito mais produtivo enviarem os documentos por email em vez de alguém imprimir, colocar num envelope e enviar.
Outra área a melhorar nas empresas que vendem produtos é a forma como embalam o produto ou como o enviam. Há aqui um grande desperdício de material na maior parte das vezes além de que podem escolher alternativas ao plástico.
Além do impacto ecológico, estas escolhas são também um modo das empresas de destacarem perante os consumidores mais atentos. Não o fazerem pode ser a razão pela qual perdem um cliente. Já deixei de ser cliente de várias empresas por esta razão.
E para os mais céticos, alerto que o mundo está mesmo a mudar. Lembro-me de há talvez quinze anos ter perguntado numa loja da Nespresso como reciclar as cápsulas. Olharam para mim, olharam para a grande fila na rua no Chiado e riram-se. Hoje já o fazem. Demorei algum tempo mas hoje tenho em casa uma máquina de café expresso em pó. 😉
Os pequenos gestos que podemos ter no trabalho
Nem todos temos o privilégio de trabalhar em empresas que tenham realmente este tipo de preocupações mas há pequenas coisas que podemos fazer individualmente.
Podemos recusar coisas que vão para o lixo como cartões visita, brindes, brochuras e até os produtos higiene dos hotéis nos frasquinhos pequeninos (e levar os nossos).
Podemos também reduzir o lixo que produzimos o que requer alguma preparação inicial. Por exemplo, podemos ter uma garrafa de água e uma chávena no escritório para evitar os copos de plástico. Quem come em sítios com talheres de plástico pode levar os seus próprios talheres e até um copo colapsável para as bebidas e café (existem vários e eu tenho um pokito). Há também a opção de trazermos de casa um lanche (fruta é fast food 😉) numa bolsa reutilizável para evitar comprar produtos embalados ou servidos em materiais descartáveis.
E como reduzir o papel? Já falei várias vezes nos cadernos que são tipo quadro branco (depois de ter experimentado vários, aconselho o Elfinbook pois apaga-se facilmente e tem mais folhas). Podemos optar por usar um tablet para tirar notas ou rever documentos que normalmente imprimimos e marcamos à mão. Eu estou maravilhada com o Remarkable. Foi uma das compras que mudou mesmo, mesmo a minha vida nos últimos anos.
Reduzir o tamanho do caixote lixo pode ser um bom indicador do nosso progresso. Hoje em dia tenho uma caixa para separar o papel que ainda há no escritório e dei nova vida a uma lata pequenina de bolos como caixote de lixo.
Podemos fazer escolhas mais conscientes dos materiais por exemplo evitando objetos de plástico (como canetas, pastas) e escolher outro material como cartão.
Reduzir o consumo
Estamos programados para consumir e muitas vezes coisas desnecessárias como se isso fosse transformar a nossa vida (bem, algumas transformam como o Remarkable).
Não funciona ou está estragado? Compra outro em vez de arranjar.
A mim ajuda-me cada vez que tenho o impulso de uma compra perguntar-me
“Preciso mesmo disto? Ou tenho outra coisa que sirva esta necessidade?”
Tenho mais canetas!
Confesso que é uma área difícil para mim. A “internet” sabe o que eu gosto e tenta-me diariamente. Estas duas perguntas são bússola que me tem ajudado.
Uma opção é comprarmos em segunda mão ou pedirmos algo emprestadado. Tenho vários materiais no meu trabalho assim.
Outra opção é o DIY (do it yourself) e darmos nova vida ao que já temos. Por exemplo, em vez de termos um sistema XPTO para arrumar e prender os cabos, podemos dar nova vida às molas de papel.
Podemos também doar ou oferecer o que já não usamos. Por exemplo, gosto de dar os livros que já li e gostei.
Podemos doar telemóveis, computadores e outros equipamentos em bom estado a escolas ou centros comunitários.
O bom senso
O desafio é manter o bom senso e fazer um equilíbrio entre conveniência e impacto gerado.
Talvez o impacto ambiental já se faça sentir no nosso tempo de vida mas com certeza vai transformar a vida dos filhos de quem os tem. Por isso, talvez valha a pena contribuir para isso mesmo.
Por outro lado, algumas destas escolhas podem simplificar e aumentar a produtividade, reduzir custos e destacar as empresas perante os seus clientes.
Esta transformação vai acontecer. Já está a acontecer. A questão é se a queremos acompanhar por vontade ou se vamos ser obrigados a isso.
E como nos definimos como Ser Humano neste planeta.
Para estar mais consciente do que está a acontecer veja o documentário Oceanos de plástico (está no netflix). A sério.
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Ana Relvas, Ph.D & Consultora de Desempenho
Ana Relvas é a propulsora da Objetivo Lua, projeto que cresceu da sua vontade em ajudar outros a concretizarem o seu potencial e foi construído sobre uma carreira de mais de 10 anos como Gestora e Engenheira Aeroespacial.
É esta experiência que, aliada à formação como Coach e Master Practitioner em Programação Neurolinguística, permite entender os desafios profissionais atuais e desenhar programa para cada pessoa, equipa ou empresa.