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“Nunca desistas!”
“Nunca desistas.” é uma expressão “motivadora” da moda que pode ser um conselho mesmo mau.
“Desiste!” Ouve-se pouco nos dias de hoje.
Confesso que a provocação “motivadora” do “Vais desistir? Hum, vais desistir?” no ginásio sempre teve o efeito contrário em mim. Fazia-me rolar os olhos. Sempre me deu mais forças o ter alguém ao meu lado a dizer “Acredito em ti, sei que consegues, eu ajudo-te, estou aqui contigo, só mais 5 segundos”. Mas pronto, este é o “programa” que eu corro. E não é sobre isso que quero falar.
Mas este exemplo ilustra do como a ideia de “desistir” é mal vista. Estamos imersos numa cultura em que a coragem e a capacidade para ultrapassar obstáculos é celebrada. E isso é bom. Só que nos pode cegar e impedir de avaliar a situação.
E isso leva a que alguns não pararem de investir na empresa que criaram e não traz resultados. Outros a despedirem-se de um trabalho que os vai matando lentamente. Outros a mudarem de carreira que odeiam. Outros a saírem de uma relação. Outros…
Gosto especialmente do conceito do livro “The dip” do Seth Godin que defende que os vencedores (seja lá o que isso for) estão sempre a desistir, mas o que os distingue é saberem quando fazê-lo. O Seth representa num gráfico os resultados em função do esforço.
E neste gráfico está representado um ponto em que não se está a ter os resultados desejados por uma de duas razões:
(1) Estamos no buraco e é uma fase necessária para que os resultados surjam (o que requer dedicação, disciplina e trabalho); no fundo uma barreira que, como só alguns estão dispostos a investir, faz a distinção dos que têm e não têm sucesso;
(2) Estamos num beco sem saída que, apesar de todo o esforço, não gerará resultados. E neste caso não é um buraco. É um planalto. Um planalto de insatisfação.
O Seth escreve sobre resultados no trabalho/negócios, mas para mim faz sentido estender isto para além do emprego e carreira, para observarmos o nosso nível de satisfação por exemplo nas relações e na vida em geral.
Continuarmos a esforçarmo-nos (a investir tempo, dinheiro, e energia) ali valerá a pena? Um dos problemas é que quando estamos no buraco pode não ser claro se mais um esforço compensará.
Mas não é só isso. A situação pode tornar-se perigosa devido ao conselho do “Nunca desistas” levando alguns a investirem o que não têm por exemplo num projeto, ou a investirem a sua energia e saúde num emprego sem saída chegando a pontos de burnout (no podcast casa trabalho casa temos uma série de 4 episódios este mês sobre o tema do burnout).
De uma certa maneira sabemos que conseguimos reagir ao perigo óbvio (como o sapo que salta imediatamente quando cai na panela com água a ferver) mas deixamo-nos ir cozendo na insatisfação que vai crescendo porque não vemos o perigo(como o sapo na panela em que água vai aquecendo lentamente até ferver).
Uma estratégia sugerida pelo Seth Godin é definirmos antecipadamente quais são as condições que nos levarão a desistir, a sair dali. No fundo quais são os nossos limites. Uma espécie de contracto connosco mesmos. Qual a temperatura da água para saltarmos da panela. E a chave aqui é fazê-lo ANTECIPADAMENTE pois quando estamos no buraco podemos acabar por tomar uma medida impulsiva.
Esta história do sapo é um mito. O sapo, ao contrário de muitos de nós, tem a capacidade de repensar a situação e sair dali.
E qual é uma das fontes da dificuldade de repensar e sair dos becos sem saída?
Uma das razões tem um nome. É um programa mental chamado “Escalada irracional do compromisso”: tomámos uma decisão (às vezes até contra conselhos dos outros) e fizemos um investimento dos nossos recursos (naquele negócio, carreira, emprego, relação). E quando descobrimos que foi uma má escolha, em vez de repensar, queremos provar que tomámos uma boa decisão e continuamos a investir. Muitos negócios afundam-se ainda mais assim. Muitas carreiras também. E vidas.
Acreditamos que “se me esforçar o suficiente, vou dar a volta a isto”.
Além disso, por vezes temos medo.
Medo não só de não sermos capazes de ultrapassar o problema, mas também de isso pôr em causa a nossa identidade. Identidade que somos levados associar aos papéis que estamos ali a desempenhar. A etiqueta que nos colocamos. E se não somos esse papel, quem somos? Lembro-me que quando mudei de carreira ter tido dificuldade em largar a etiqueta de engenheira e, durante algum tempo, ainda dizia isso quando me perguntavam a profissão. 😊
Talvez estejamos também agarrados à identidade da pessoa que não desiste, não conseguindo criar eus alternativos.
Não há vergonha em desistir. Talvez nos servisse mais ter vergonha de não parar para pensar e reavaliar as situações.
De não conhecermos os nossos limites e o que é mais importante para nós.
Ninguém é menos por isso. E para desistir é muitas vezes preciso ter coragem. Acredito eu. E isso é ser vencedor (seja lá o que isso for).
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Ana Relvas é a propulsora da Objetivo Lua, projeto que cresceu da sua vontade em ajudar outros a concretizarem o seu potencial e foi construído sobre uma carreira de mais de 10 anos como Gestora e Engenheira Aeroespacial.
É esta experiência que, aliada à formação como Coach e Master Practitioner em Programação Neurolinguística, permite entender os desafios profissionais atuais e desenhar programa para cada pessoa, equipa ou empresa.