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Não temos vida profissional e pessoal. Temos uma vida só. A nossa.

Primeiro, deixe-me desconstruir o título deste artigo: nós não temos uma vida profissional e uma vida pessoal. Ponto. Temos uma vida só. A nossa. Dedicamos algum (muito) do nosso tempo ao trabalho mas isso também é a nossa vida. Dá-nos jeito compartimentar as “vidas”, dar-lhes nomes mas, em particular nos dias de hoje, as fronteiras são cada vez mais ténues.

Neste artigo vou continuar a usar estas denominações e o meu objetivo é partilhar consigo alguns hábitos que o podem ajudar a usufruir mais dos momentos em que não está a trabalhar, a tal da “vida pessoal”.

Flexível para os dois lados?

Hoje em dia usufruímos de condições que nos facilitam a vida profissional e a sua conjugação com a vida pessoal. Muitos de nós têm horário flexível ou podem-se ausentar para tratar de algum assunto. A tecnologia trouxe-nos até a possibilidade de podermos trabalhar fora do escritório o que nos permite uma maior flexibilidade e tratarmos de assuntos onde quer que estejamos.

Tenho no entanto observado que toda esta flexibilidade tende a beneficiar a nossa vida profissional. Acabamos por ter dificuldade em distanciarmo-nos do trabalho fora das horas de trabalho.

Quantos de nós enviam e recebem emails à noite?

Quantos de nós a primeira coisa que fazem de manhã é ver o email do trabalho?

Quantos de nós estão disponíveis por telefone durante as férias e ao fim-de-semana?

Hoje em dia o stress relacionado com o trabalho é maior do que era há uns anos atrás, em particular porque, embora saiamos do escritório, não nos desligamos do trabalho. Algumas organizações e países já começam a reconhecer o perigo e a definirem estratégias para que isto não aconteça. Por exemplo, uma lei recente em França, proíbe que as empresas com mais de 50 pessoas enviem emails aos seus trabalhadores após as horas de trabalho típicas garantindo o direito dos trabalhadores se desconectarem.

A flexibilidade de estar contactável e conseguir dar resposta em momentos importantes, mesmo que não sejam no horário de trabalho, é importante só que muitos deixaram que, o que devia ser uma exceção, se tornasse a regra.

Tenho observado que algumas pessoas conseguem que esta regra não se instale, através de hábitos simples e que hoje partilho consigo.

Hábito 1: ter dois números de telefone (um telefone profissional e outro pessoal)

Sim, é útil ter um telemóvel da empresa e poder usá-lo para assuntos pessoais. No entanto, isso não lhe permite desligarmo-nos.

Uma das estratégias adotadas por aqueles que querem ter um tempo de descanso de qualidade é ter um número de telefone profissional e outro pessoal de modo a que possam desligar o profissional fora das horas de trabalho.

Até a tecnologia já nos ajuda a desligarmo-nos com os telemóveis dual sim para não andarmos com dois telemóveis. Os dual sim permitem ter dois cartões, desligar um deles e escolher com qual dos dois se faz a chamada ou envia o sms. Até há apps para agendar o ligar e desligar um dos números fora do horário de trabalho.

O processo de “desligar-se” não foi simples para toda a gente. Alguns precisaram de fazer alguns ajustes e gerir expetativas de outras maneiras. Se é o seu caso, pergunte-se:

  • Precisa mesmo de ter o telemóvel do trabalho sempre ligado? Ou pode optar por só o ter ligado naquelas alturas em que está à espera de uma chamada importante? Estas alturas são a exceção ou a regra?
  • O facto de “precisar” de responder a chamadas fora do horário de trabalho como regra é sintoma de alguma das seguintes situações? E se forem, o que vai fazer para que não aconteçam?
    • Má organização do trabalho e ficarem coisas para a última da hora (não pode esperar pela manhã seguinte?)
    • Falta de autonomia de quem trabalha consigo (precisam mesmo de lhe ligar para tomar uma decisão?)
    • Não “educou” os clientes, chefes, equipa, etc. mostrando disponibilidade em vez de passar a mensagem que não estará disponível. Faça uma melhor gestão das expetativas destas pessoas. Caso o contactem fora de horas e se atender a chamada, responda mas deixe claro que o está a fazer como uma exceção. Faça-as sentir que estão a ultrapassar um limite e que são elas que estão erradas.
  • Se prevê que existem situações de risco em que precisa mesmo de ser contactado, partilhe o número pessoal com algumas pessoas. Poucas. Indicando as situações em que excecionalmente o podem contactar.
  • Tenha uma mensagem de voicemail a pedir que quem lhe liga, lhe deixe o contacto para ligar de volta. E no dia seguinte ligue. Sempre.

Hábito 2: Ter dois endereços de email (um email profissional e outro pessoal)

Nos dias de hoje, é muito provável que venha a trabalhar em várias empresas e a ter vários endereços de email. Não use o email profissional para assuntos pessoais.

Há vários benefícios em ter um endereço de email pessoal:

  • Quando mudar de trabalho, não vai aborrecer os seus amigos para alterarem o contacto.
  • Quando mudar de trabalho, não terá que mudar os seus endereços nas assinaturas que lhe interessam (dica: Sabia que se tiver um email GMAIL pode na prática ter vários endereços? Por exemplo, imagine que o seu email era [email protected]. Quando fornece o seu email para um site de compras ou para se inscrever para uma newsletter pode fornecer o email [email protected] ou [email protected] e receberá ambos na sua conta. Acrescentando ao seu endereço “+texto” cria um novo endereço (embora não possa enviar emails a partir dele) e pode assim criar um filtro automático que lhe colocará logo estes emails numa pasta especial a qual processará tiver tempo.)
  • Pode continuar a ver o email pessoal fora das horas de trabalho sem estar a ser “tentado” pelo email profissional.
  • Durante o dia pode estar focado no trabalho sem ser distraído por emails pessoais. Pode no entanto, receber o seu email pessoal na sua aplicação de email profissional como por exemplo o Outlook, bastando para isso adicionar mais uma conta (use as configurações IMAP e veja aqui como o fazer para que as pastas e estado de leitura das mensagens estejam sempre sincronizado).

Hábito 3: Criar o ritual de entrar e sair à mesma hora do trabalho

Um dos hábitos daqueles que conseguem encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é começarem e terminarem de trabalhar tipicamente à mesma hora, mesmo, e principalmente, se tiverem horário flexível.

Se não houver horas para sair, muitos acabam por estender as horas de trabalho. Uns fazem-no porque há trabalho para fazer (e vai sempre haver, não vai acabar). Outros porque não querem que pareça “mal” sairem do trabalho “a horas”.

Mesmo não tendo um compromisso, como ir buscar as crianças à escola, estas pessoas organizam-se e focam-se durante o dia para saírem à hora que estipularam.

Hábito 4: Desligar-se ou reduzirem o tempo nas redes sociais durante o dia

Uma das razões porque muitos acabam por levar trabalho para casa ou trabalhar mais horas é por não terem sido eficientes durante o dia. Uma das maiores fontes de distração são as redes sociais. “São só 5 minutos para descontrair.” Só que nunca são só 5 minutos.

Com algumas pessoas também se passa um processo interessante. O facto de algum do seu tempo durante o dia ser investido por exemplo nas redes sociais faz com que seja aceitável que algum do seu tempo após o trabalho seja investido…a trabalhar. Parece que faz sentido, não é? Lembre-se que para o tempo de descanso, a tal da vida pessoal, ser pleno e reparador é cada vez mais necessário sabermos desligarmo-nos do trabalho.

Quem consegue criar estes 4 hábitos (mantendo a capacidade de resposta a exceções, sabendo que as exceções são isso mesmo, exceções) conseguem usufruir e ter melhores resultados nas “vidas”. Espero que estes hábitos o ajudem!

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AO COMANDO DA OBJETIVO LUA

Ana Relvas, Ph.D & Consultora de Desempenho

Ana Relvas é a propulsora da Objetivo Lua, projeto que cresceu da sua vontade em ajudar outros a concretizarem o seu potencial e foi construído sobre uma carreira de mais de 10 anos como Gestora e Engenheira Aeroespacial.

É esta experiência que, aliada à formação como Coach e Master Practitioner em Programação Neurolinguística, permite entender os desafios profissionais atuais e desenhar programa para cada pessoa, equipa ou empresa.

 

 

 

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