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Há tempos num curso uma participante perguntou-me como lidar com pessoas tóxicas no trabalho. Na altura não tivemos oportunidade para explorar o tema mas ficou prometido que ía escrever sobre isso.
Todos nós já tivemos (ou temos) colegas com comportamentos tóxicos que tipicamente alimentam mexericos, criticam e culpabilizam os outros (a responsabilidade nunca é deles e têm sempre razão) e chegam a trair a confiança dos colegas. Seja numa conversa de café ou numa reunião, este comportamento pode ser muito cansativo.
Além disso, é um perigo pois cria mau ambiente e pode até intoxicar os outros que começam também a fazê-lo. Chama-se o efeito manada. Veja aqui uma experiência assustadora que mostra como a pressão social nos pode levar a fazer coisas que não queremos mesmo quando achamos que estamos imunes a isso.
Como lidar com isso?
Procuro neste artigo dar algumas ideias para lidar com estas pessoas. Umas vão funcionar, outras não. Mas podem ser um começo 🙂
Algumas destas ideias serão mais úteis se tem funções de gestão sobre essa pessoa. E, nesse cenário, tem a obrigação de o fazer para que a toxicidade não seja contagiada a outros membros da equipa.
Se não tem esse tipo de funções, pode inspirar-se nalgumas das sugestões para influenciar o comportamento do colega.
Vou falar de dois cenários: um em que o conteúdo das críticas/mexericos é verdadeiro e o outro em que não é verdadeiro ou está distorcido.
Cenário 1: o conteúdo é verdadeiro
Neste cenário, a pessoa “tem razão” embora possa não estar a conseguir lidar com isso de um modo construtivo.
Estratégia 1: Resolver o problema
Se temos poder para resolver o problema que está a originar as críticas e os mexericos, devemos falar com a pessoa e garantir que queremos encontrar uma solução e fazê-lo.
Pode ser difícil porque o nosso ego está fragilizado e não queremos “dar o braço a torcer”. Se errámos ou algo na organização não está bem, devemos fazer o que está ao nosso alcance para o corrigir.
Podemos ter uma conversa com esta pessoa, fazer perguntas, ouvir e recolher informação com a pessoa para nos ajudar a resolver o problema.
Se não temos poder para resolver o problema, pode ser útil darmos sugestões à pessoa. Por vezes reclamam de algo que as incomoda porque não estão a ver uma solução (que pode passar por fazerem algo de maneira diferente ou pedirem ajuda). Em vez de alimentarmos a conversa focada no problema, podemos redirecioná-la para a solução.
Estratégia 2: Explicar porque não se pode resolver ou porque se faz assim
E quando não há solução, ou a solução não é a que a pessoa deseja?
O segredo aqui é explicar o porquê.
Há coisas que não se podem resolver (a curto ou médio prazo) ou há decisões que têm uma razão. Na maior parte das vezes as pessoas não conhecem toda a história e por isso é tão importante explicar o outro lado.
“Estamos pressionados para terminar este projeto para podermos faturar ao cliente e pagar os ordenados”.
“Não conseguimos contratar alguém com essas competências para te ajudar porque…”
“Estamos a apostar nesta área porque…”
PORQUE…
Porque às vezes as pessoas só precisam de se sentirem ouvidas, envolvidas, e importantes.
Cenário 2: o conteúdo não é verdadeiro
Se a pessoa não “tem razão” no que diz, é importante confrontá-la numa conversa franca.
Mas antes, avaliar se a história que conta não tem mesmo um fundo de verdade. Às vezes estamos tão agarrados à nossa história que não aceitamos as outras. Tal como esta pessoa.
Estratégia 1: Fazer ver o impacto do seu comportamento
Muitas vezes estas pessoas não têm ideia do quão destrutivo e desagradável é o seu comportamento. Não têm realmente noção do impacto que aquelas conversas têm nos outros.
Este comportamento é consequência de estarem magoadas e frustradas no trabalho ou noutras áreas da vida.
O segredo aqui é descobrir qual é a história. A sua história. Em geral, há sempre uma história que está enviesada. Às vezes não se sentem respeitados, ouvidos, sentem que estão a ser injustiçados, explorados, acham que está tudo mal.
E isto pode ainda ser exacerbado se a sua autoimagem passar por serem alguém desafiador, que não se deixa enganar e refilão (“a mim ninguém me cala”).
Qual é a história? E qual é a necessidade que estão a tentar satisfazer com aquele comportamento? Às vezes só querem sentir-se importantes porque alguém lhes dá atenção.
Estratégia 2: Desmontar a história
Frontalmente podemos questionar a veracidade por exemplo da critica que está a ser ventilada e dar informação que ajude a pessoa a conhecer a realidade. Esta conversa pode ser uma conversa de surdos. Muita gente tem dificuldade em ouvir outras perspetivas quando isso põe em causa o que acreditam. Gosto particularmente deste “guião” para estas situações:
(1) Reconhecer o que a outra pessoa está a acreditar como a sua crença (“Eles são injustos, não sabem o que fazem…”). Não vale a pena dizer que está errada mas podemos perguntar o que a pessoa observou para dizer isso.
(2) Partilhar aquilo que acreditamos (a nossa crença) e o que observámos que nos leva acreditar nisso.
Mais do que certo ou errado, começamos a ver as observações que sustentam as crenças e talvez isso ajude a transformá-las ou a lidar com elas de um modo mais leve.
Estratégia 3: Incentivar a pessoa a contribuir para resolver o problema
Às vezes também é importante ressignificarmos a importância dos problemas lembrando que resolver problemas é o trabalho de toda a gente. Se não existissem problemas, ninguém tinha trabalho. Ninguém. Isto pode alimentar uma atitude mais construtiva em relação aos problemas. Em vez de gastar energia a reclamar, podemos incentivar a pessoa a canalizar essa energia para contribuir para a solução.
Estratégia 4: Pedir que páre
Pedir-lhe para parar embora algumas pessoas não mudem: 4% acham graça a alimentarem este comportamento e acham que se safam. Podem não se “safar”?
E se não pára, avaliar se é contagiante e afastá-la dos outros e não lhe dar tempo de antena.
Se não tem poder para isso, pelo menos não alimentar as conversas e ignorar.
Em paralelo podemos dar o exemplo e encorajar conversas mais positivas com outras pessoas e valorizar as pessoas que têm uma atitude construtiva.
Alimentar a nossa energia
Ajuda-me sempre pensar que se eu estivesse no lugar daquela pessoa, com a sua história de vida, no fundo vendo o mundo da maneira que ela vê, talvez fizesse exatamente o mesmo.
E isto ajuda-me a criar alguma empatia e a ter energia para talvez dizer-lhe algo positivo.
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Ana Relvas é a propulsora da Objetivo Lua, projeto que cresceu da sua vontade em ajudar outros a concretizarem o seu potencial e foi construído sobre uma carreira de mais de 10 anos como Gestora e Engenheira Aeroespacial.
É esta experiência que, aliada à formação como Coach e Master Practitioner em Programação Neurolinguística, permite entender os desafios profissionais atuais e desenhar programa para cada pessoa, equipa ou empresa.