Respondendo a uma das perguntas que me fizeram para o blog no âmbito da iniciativa ASKME (deixe-me perguntas para inspirar artigos no blog), vou hoje dar algumas dicas para ajudar a alterar os “rótulos” que nos são colocados ao longo do percurso profissional numa empresa de forma a inverter a imagem negativa que os outros têm de nós.
São necessários 20 anos para construir uma reputação e apenas cinco minutos para destruí-la.
Warren Buffett
Quais são os rótulos? Alucinações ou reais?
Em primeiro lugar, é importante perceber que “rótulos” são esses e distinguir os reais das alucinações.
Uma coisa é aquilo que achamos que os outros pensam de nós (que pode tanto ser verdade como também pode ser uma alucinação) e outra coisa é a impressão que os outros têm e que até já nos deram feedback.
Vou dar-lhe um exemplo de alucinação: uma pessoa acha que o chefe não o acha competente ou de confiança já que o chefe não lhe dá projetos de maior responsabilidade ou não partilha informação. O facto de o chefe não lhe dar projetos de maior responsabilidade ou não partilhar informação não significa necessariamente que não o ache competente ou de confiança. Tantas outras coisas podem estar a acontecer! Tantos outros significados podem ser associados a este comportamento.
Por outro lado, todos tendemos a colocar rótulos nas outras pessoas. Os rótulos nascem da nossa perceção do comportamento das outras pessoas e esquecemo-nos que as pessoas não são esse comportamento. O comportamento que adotam num determinado contexto é isso mesmo: um comportamento. Tipicamente esquecemo-nos que os comportamentos podem ser alterados e é aí mesmo que vamos trabalhar se queremos transformar os rótulos que nos colocam.
De onde vêm os rótulos?
Para mudar o rótulo é importante perceber de onde vêm esses rótulos.
- Em primeiro lugar, perceba quais são as pessoas especificamente que lhe colocaram esse rótulo ou quem são as pessoas quer influenciar a que mudem de opinião.
- Em segundo lugar, é importante clarificar a origem do rótulo. Um rótulo por si só não lhe diz nada. O que é importante perceber é quais foram os comportamentos específicos que adotou que levaram à criação desse rótulo. Vamos explorar este ponto de seguida.
Este tipo de rótulos resultam em geral da interpretação que fazemos de comportamentos e nesse processo tendemos a apagar certos comportamentos e a generalizar outros. Por exemplo, com base nalguns comportamentos/experiências tendemos a assumir que essa pessoa tem esse comportamento sempre, mesmo que já tenhamos observado situações em que isso não acontece.
Até damos um passo maior e assumimos que o comportamento não é isso mesmo, um comportamento, mas uma característica da pessoa.
Por exemplo, se alguém chega duas vezes atrasado a uma reunião, colocamos-lhe o rótulo de atrasado.
Por outro lado os rótulos que colocamos estão intimamente ligados às nossas regras e expetativas e aos significados que associamos aos comportamentos, a como achamos que as pessoas se deviam comportar.
Voltando ao exemplo de chegar a horas ou atrasado: para uma pessoa para quem chegar atrasado é inaceitável e significa que quem chega atrasado não tem respeito pelos outros, basta alguém falhar uma vez para ficar com o rótulo de atrasado, desorganizado, etc. Para outra pessoa para quem não seja assim tão importante chegar a horas, alguém chegar atrasado é simplesmente … alguém chegar atrasado.
Deixe-me dar-lhe outros exemplos:
- O chefe do João acha que ele não é proactivo já que está sempre a envolve-lo para resolver problemas. Como o João gosta de o manter informado, o chefe tem sempre a sensação de que o João está a pedir-lhe aprovação e não quer tomar decisões. Repare que a informação de que “não é proactivo” por si só não ajuda o João a transformar o comportamento.
- A Maria tem o rótulo de antipática. As colegas da Maria gostam de ficar a conversar na copa na hora do almoço mas a Maria prefere almoçar rápido e vai logo a seguir trabalhar de modo a sair mais cedo e realizar outras atividades que são muito importantes para ela. Mesmo que a Maria se mostre prestativa durante o dia, como não é de “conversas”, as colegas colocam-lhe o rótulo de antipática.
- Os colegas do Francisco acham que ele é um picuinhas já que está sempre a levantar questões que os atrasam
Já está ver onde quero chegar…quando queremos transformar o rótulo, devemos procurar perceber:
- quais são os comportamentos específicos que levaram a esse rótulo;
- quais são as regras/níveis de exigência/procedimento de evidência que levaram a esse rótulo.
Não se defenda com palavras, defenda-se com ações
Repare que o que é rotulado é o comportamento ou perceção do comportamento. Aqui é importante o conceito de perceção: a ideia que o outro tem do comportamento pode não ser a mesma que temos ou pode até não ser a realidade.
Caso acredite que o rótulo é justo e que resulta de um comportamento específico que adotou, pode valer a pena assumir o erro.
No entanto, não se mostre defensivo ou tente desculpar-se/acusar os outros. Isso pode reforçar o rótulo. Foque-se em transformar o comportamento como vamos ver de seguida.
Como transformar os rótulos
Se quer mesmo transformar os rótulos que lhe colocam o primeiro passo é agarrar agora numa caneta (ou num processador de texto) e escrever as respostas às várias perguntas que vou colocar de seguida. Escreva mesmo, a sério! A escrita ajuda-nos a organizar as ideias.
O segundo passo é preparar-se para alterar alguns comportamentos de um modo consistente ao longo do tempo. A perceção que os outros têm não vai mudar de um dia para o outro já que tendemos a desvalorizar coisas que não estão alinhadas com a nossa opinião/impressões. Por outro lado se for persistente, vai aumentar a probabilidade de ver resultados.
Enquanto falarmos em coisas abstratas (como atrasado, desorganizado, pouco proactivo, antipático, picuinhas, etc.) é muito difícil transformar resultados. A transformação ocorre quando começamos a transformar comportamentos e resultados específicos.
Já agarrou na caneta? Vamos a isso?
1. Quais os rótulos que lhe colocam agora e que gostaria de transformar? (Vamos assumir que já avaliou que não se trata de uma alucinação…)
2. Qual é a intenção positiva por trás do comportamento que levou ao rótulo? Por exemplo no caso do Francisco (picuinhas) que levantava muitas questões: ele tem a intenção de antecipar problemas e fazer as coisas bem feitas. Ignorar a intenção positiva e deixar de realizar o comportamento, pode ter resultados negativos e também pode levá-lo a não se sentir satisfeito. De que outra maneira pode satisfazer a intenção positiva?
3. Porque é que transformar esses rótulos é importante para si?
4. Quem são as pessoas que quer influenciar/que mudem de opinião?
5. Quais são os comportamentos que adota e que levaram a que lhe colocassem esses rótulos? A cereja no topo do bolo é perguntar quais são os comportamentos/exemplos de situações específicas que essas pessoas observaram (em vez de estar a fazer um filme). Quando as respostas forem abstatas, peça um exemplo de uma situação específica e não tente defender-se. Ouça, processe e aceite que essa é a perceção dessa pessoa e o seu foco é em transformar essa perceção no FUTURO.
6. Que outros rótulos gostaria que lhe colocassem?
7. Quais os comportamentos que alucina que os outros achariam consistentes com esses rótulos (coloque-se no lugar do outro ou pergunte)? Que comportamentos específicos deverá adotar consistentemente alinhados com esses novos rótulos?
8. É possível que já esteja a adotar esses comportamentos específicos mas que não sejam observados pelas pessoas que quer influenciar, ou seja, não precisa de adotar um comportamento novo mas sim alterar a perceção dos outros relativamente ao seu comportamento? Caso isso aconteça, como pode fazer esses comportamentos observáveis?
9. Quem o pode ajudar nesse processo (partilhando consigo o que observa já que muitas vezes estamos tão envolvidos que não notamos o tipo de comportamento que estamos a adotar, chamando-o à atenção, etc.)?
10. O que pode fazer especificamente nas próximas semanas? Por exemplo, identifique situações onde poderá colocar em prática as suas decisões. Vá avaliando semanalmente o que correu bem, o que poderia ter corrido melhor e o que vai fazer diferente.
Resumindo:
- O rótulo resulta da perceção dos outros sobre o nosso comportamento. Para transformar o rótulo, foque-se em transformar o comportamento e/ou a perceção do comportamento.
- Identifique quem são as pessoas que quer influenciar.
- É importante focar-se em comportamentos e expetativas específicas.
- Identifique situações específicas onde vai adotar o novo comportamento.
- Mantenha a consistência e foco neste processo. Não vai acontecer do dia para noite. Planeie o que vai fazer semanalmente e avalie a semana que passou respondendo às perguntas “o que correu bem?”, “o que podia ter corrido melhor?” e “o que vou fazer diferente?”
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AO COMANDO DA OBJETIVO LUA

Ana Relvas, Ph.D & Consultora de Desempenho
Ana Relvas é a propulsora da Objetivo Lua, projeto que cresceu da sua vontade em ajudar outros a concretizarem o seu potencial e foi construído sobre uma carreira de mais de 10 anos como Gestora e Engenheira Aeroespacial.
É esta experiência que, aliada à formação como Coach e Master Practitioner em Programação Neurolinguística, permite entender os desafios profissionais atuais e desenhar programa para cada pessoa, equipa ou empresa.